A propósito do dia mundial da fotografia [19 de agosto]

O poema de Carlos Drumond de Andrade sobre as fotografias de Evandro Teixeira, fotojornalista brasileiro, introduz-nos no poder da fotografia.

A pessoa, o lugar, o objeto
estão expostos e escondidos
ao mesmo tempo, sob a luz,
e dois olhos não são bastantes
para captar o que se oculta
no rápido florir de um gesto.

É preciso que a lente mágica
enriqueça a visão humana
e do real de cada coisa
um mais seco real extraia
para que penetremos fundo
no puro enigma das imagens.

Fotografia-é o codinome
da mais aguda percepção
que a nós mesmos nos vai mostrando,
e da evanescência de tudo
edifica uma permanência,
cristal do tempo no papel.

… / …

Fotografia: arma de amor,
de justiça e conhecimento,
pelas sete partes do mundo,
viajas, surpreendes, testemunhas
a tormentosa vida do homem
e a esperança de brotar das cinzas.


De acordo com os historiadores, a primeira fotografia surgiu em 1836 em consequência das experiências de JosephNicéphore Niépces, que desenvolveu a “Heliografia”, uma técnica muito rudimentar com uma espécie de verniz que possibilitava uma rápida secagem quando exposto à luz. O problema da técnica de Niépces surgia na impressão, pois a imagem não se mantinha estável, devido a propriedade fotossensível da prata, que escurecia ao receber luz. 

O problema da nitidez e fixação da imagem no papel foi resolvido por volta de 1839 por Louis Daguerre, onde a imagem era convertida em prata metálica e exposta, e depois, a partir do vapor do mercúrio, o iodeto de prata se convertia em prata metálica. É do nome de Daguerre que surge a expressão daguerrótipo. A memória e o trabalho de Daguerre são preservados pela Daguerreian Society.

Ao longo da história da fotografia, muitos foram os autores e as autoras que se destacaram como excelentes fotógrafos, conforme podemos ver aqui, aqui e aqui.

Vamos destacar apenas alguns.

Jorge Molder (ver biografia e obra) é um dos fotógrafos portugueses mais conhecidos.

Auto-retrato de Jorge Molder

Na página web da Fundação EDP, é possível observar vários dos trabalhos deste autor.

Sebastião Salgado, brasileiro, economista de formação, é reconhecido internacionalmente pelas suas séries fotográficas sobre o trabalho e as migrações (ver vida e obra aqui). 
A sua belíssima obra, a preto e branco, choca-nos pela dureza da vida, pela aridez da paisagem, pelas histórias de beleza, sofrimento e sobrevivência que as suas fotografias contam. 

Série "work". Fotografia de Sebastião Salgado

Para ouvir e ver mais sobre o pensamento e a obra deste fotógrafo vejam-se aqui alguns vídeos disponibilizados pelas TED Talks

Man Ray (1890-1976, americano) e Henri Cartier-Bresson (1908-2004, francês) são outros dois autores que elevaram a fotografia à categoria de arte internacionalmente reconhecida.

Na página web do Man Ray Trust é possível recolher diversas informações sobre a vida e a obra deste fotógrafo e pintor cuja obra se encontra inserida no movimento Dada.

Glass Tears de Man Ray, 1932
(Getty Museum, Los Angeles, California, USA)


Na página web da Fondation Henri Cartier-Bresson encontramos informações sobre a vida e obra deste fotógrafo. Mais informação também é possível obter na secção da Magnun dedicada ao autor. 

Henri Cartier-Bresson, 1948


Cindy Sherman é uma fotógrafa norte-americana contemporânea cujas fotografias estão extensivamente representadas no MoMa.
Cindy é o seu próprio modelo, ainda que as suas fotografias não sejam autor-retratos.

Cindy Sherman. Untitled #466. 2008.
 Chromogenic color print, 8' 1 1/8 x 63 15/16" (246.7 x 162.4 cm).
The Museum of Modern Art, New York.


Encomenda de Cecília Meireles
 

Desejo uma fotografia
como esta — o senhor vê? — como esta:
em que para sempre me ria
como um vestido de eterna festa.


Como tenho a testa sombria, 
derrame luz na minha testa.
Deixe esta ruga, que me empresta
um certo ar de sabedoria.


Não meta fundos de floresta
nem de arbitrária fantasia...
Não... Neste espaço que ainda resta, 
ponha uma cadeira vazia.



O fotojornalismo, muitas vezes desenvolvido por fotógrafos freelancer, tornou-se um importante meio de comunicação, de transmissão de ideias, de denúncia de conflitos, pobreza à escala mundial e de aproximação do estranho, do diferente. A Magnum é uma cooperativa de fotógrafos francesa, que surgiu em 1947, liderada pelo fotógrafo húngaro Robert Capa (1913 – 1954) que já fotografava em cenários de guerra desde os anos 30 e que representa o papel social e político dos que, muitas vezes, arriscam a vida para nos fazer chegar fotografias de todo o mundo.




O Retrato, de Adélia Prado

Eu quero a fotografia,
os olhos cheios d'água sob as lentes,
caminhando de terno e gravata,
o braço dado com a filha.
Eu quero a cada vez olhar e dizer:
estava chorando. E chorar.
Eu quero a dor do homem na festa de casamento,
seu passo guardado, quando pensou:
a vida é amarga e doce?
Eu quero o que ele viu e aceitou corajoso,
os olhos cheios d'água sob as lentes.. 
Prado, A. (2002). Bagagem. Lisboa: Livros Cotovia.

Neste vídeo, o fotógrafo artístico, especialista em retratos, Martin Schoeller, mostra-nos a importância da fotografia na relação com o outro.

Isabel Bernardo


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