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A Rapariga das Laranjas

A Rapariga das Laranjas, obra escrita por Jostein Gaarder, é um livro pequeno, com capa pouco apelativa e de conteúdo fascinante. Esta obra destaca-se pelo facto de compreender um romance envolvente e uma profunda questão existencial que, certamente, não deixa nenhum leitor indiferente. Jostein Gaarder, escritor e filósofo norueguês, é também autor de O Mundo de Sofia, livro mundialmente conhecido. Gaarder é reputado pelas suas obras com mensagens e questões filosóficas de fácil compreensão, expressas em contos, romances e histórias.



Figura 1 – Jostein Gaarder, escritor e filósofo norueguês


A Rapariga das Laranjas relata a viagem que o jovem Georg Røed (15 anos) percorre por uma carta misteriosa que o seu pai (falecido) lhe dirigiu 11 anos antes. Georg é “transportado” pelas palavras do seu pai até às ruas de Oslo, onde o jovem Jan Olav, pai de Georg, se aventura para encontrar a rapariga das laranjas, com quem se tinha cruzado apenas uma vez num carro elétrico. Tal como Georg, o leitor será confrontado durante toda esta narrativa pela efemeridade da vida e pela verdade bruta e irrefutável da morte sem data, ambas conhecidas pelo ser humano, aquele que não escolheu nascer, mas que reconhece o milagre frágil e a “sorte de lotaria” que é a existência. Esta obra é, portanto, uma carta recheada de ensinamentos e questionamentos de um pai que não pode acompanhar o crescimento de um filho a um jovem que nunca pode conhecer de facto a história de vida de seu pai.
Questiona-nos o autor,   

       Imagina que estavas algures no limar da criação desta aventura quando tudo foi criado há muitos biliões de anos e tinhas a possibilidade de escolher se querias viver neste planeta. Sabias que viverias poucos anos, mas desconhecias quando e quanto tempo existirias. Se escolhesses vir ao mundo «chegado o momento oportuno», terias de desligar-te desse mesmo mundo e deixar tudo atrás de ti.Já pensaste que um dia não vais existir mais? Tudo o que construíste, as amizades que fizeste, os momentos que te arrepiaram, as palavras que te marcaram, os sorrisos que te arrancaram e as lágrimas que derramaste, tudo isso, uma vida inteira, irá ter o seu término? Será que valeram a pena os esforços que fizeste para chegares onde estás, tudo para um dia, não existires mais? Quer sejamos pessoas de fé em céus ou infernos, ateus convictos ou simples indecisos, estas indagações nos dizem respeito a todos, visto que todos sabemos que vamos morrer e que não temos datas definidas para tal (pelo menos, a maioria). Mas, e se pudéssemos escolher? Se tivéssemos plena consciência de que iríamos construir toda uma história e uma vida e um dia, sem avisos, sem alertas, sem contagens decrescentes, fôssemos levados para onde quer que seja e simplesmente deixássemos de existir e perdêssemos tudo o que fizemos?    

O autor indaga: Que sentido faria eu provar uma coisa muito gostosa se ela pesasse menos de um miligrama?

Queria deixar-vos à imaginação a resposta a estas indagações, mas não sem antes apresentar o meu lado. Na verdade, não consegui chegar a uma conclusão sem antes pesar as duas opções.

No limiar da existência, seria ignorante de sentimentos, experiências e opiniões, de modo a que ambos os lados me parecessem igualmente aceitáveis, o que torna mais complicada a tomada de decisão. Mas deixemos isso de parte.

Por outro lado, se eu fosse eu mesma (com tudo o que me carateriza enquanto ser individual) seria “suspeita” em escolher um lado apenas, visto que tenho pleno conhecimento da existência mas, da mesma forma, sou completamente ignorante da inexistência. Quando um ser escolhe a inexistência, escolhe fechar os olhos, escolhe não conhecer, não sentir, não ser e isso é impossível. Um ser que é, não pode escolher não ser porque já o é, ou seja, se uma pessoa escolhe ser ignorante à vida, é ignorante a tudo, logo, não pode encontrar nenhum conforto em não existir. Não seria uma opção ou escolha, seria um nada. E, convenhamos, optar por não ser é covardia e nenhuma pessoa certamente gostaria de ser chamado covarde. Para mim, o ponto principal é a coragem. Entre optarmos por lutar por algo que sabemos que iremos perder e não lutar de todo por medo da perda, a coragem é o que irá decidir. Portanto, posso dizer que elegeria a existência. Mesmo que a vida seja muito saborosa, mas pese apenas um miligrama, escolheria provar. Embora não tivesse uma noção exata do sabor e este desaparecesse da minha boca em questão de segundos, ainda assim eu tinha tido a experiência do provar. Escolher não viver pelo simples facto de não sabermos exatamente quando será o fim da aventura e o que deixaríamos para trás, seria não chegar a provar de todo. 

Figura 2 – A rapariga das laranjas [disponível na BECP]


 A Rapariga das Laranjas, em apenas 123 páginas e algumas horas, levou-me a meditar sobre os meus 16 anos, por isso, recomendo intensa e vigorosamente a leitura do mesmo uma vez que não se dirige a uma classe ou idade específicas mas ao ser humano como um todo.

Ghyovana Carvalho, 11ºLH2 


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