Crónico

 


A lamparina balança, para a esquerda e para a direita, seguindo o cavalgar do escaravelho. A minha capa esvoaça com o vento noturno, acompanhando o fino cogumelo-de-chuva, que comprara por 50 enxufens, na vila mais próxima.

Estas noites solitárias obrigam-me a pensar no passado: em meu pai, que me deserdara, me queria conquistador e guerreiro, mas quando cheguei à idade em que me tornara num Anuro, deixando de ser um simples girino, queria conquistar cada dia, opondo-me a ele, que queria conquistar territórios e poder. Agora, sou conhecido como o Bufo, que anda de terra em terra, de império em império, a fazer o que gosto, conquistar cada dia.

Uma vez, quando me pagaram 500 escurtões para conquistar o Crónico, este respondera-me, quando entrei de rompante: «Conquistar é apenas um hobby de pequenos seres, que sonham mais do que conseguem sonhar.» Este, que vive desde o início dos tempos, conta como conquistou pelo trabalho, conquistou o tempo, ainda antes de o primeiro ser existir, para poder dar o tempo aos outros. Conversámos durante horas e discutimos conquistas, ideologias e razões, e saí de lá conquistado, e com menos 500 escurtões na bolsa. Vim a saber que quem me contratara para matar o ser do tempo era um mero sapo que tinha perdido uma aposta.

 Agora não faço mais que conquistar o alheio, gastando o tempo dado, como um sapo ingrato. Mas o alheio que pretendo conquistar, poderá levar-me para não sei onde e é isto que me conquista a viver esta vida: cavalgar no meu escaravelho, de terra em terra, a ver a minha lamparina a baloiçar, a minha capa a esvoaçar, a dormir ao relento, ler as estrelas e não saber onde estas conquistas me hão de levar.

 Diogo Ramos Carriço, 12.ºLH2

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