Cadima, 25 de dezembro de 2023

Avó,

Tudo começou quando os pais me sentaram no sofá e se dirigiram a mim como se o mundo tivesse acabado. Via nas suas caras medo e insegurança, a mesma que me atingiu quando soube a notícia.

O meu mundo desabou instantaneamente. Perguntas e perguntas rondaram a minha cabeça. Senti-me mais criança do que alguma vez tinha sido e senti-me mais impotente do que alguma vez sonharia ser.

A primeira sessão de quimioterapia a que fui contigo foi a maior tortura da minha vida. Não só porque via todas as pessoas agarradas a máquinas, com as caras pálidas e olhos que vagueavam para o além, mas porque te via, a ti, num estado lastimável sem que pudesse fazer nada.

A mãe só me pedia para ter coragem e eu, como boa menina que era, agarrava nas poucas forças emocionais que tinha e dava-te o maior apoio que era possível dar. Sempre te disse que irias escapar desta. Eras a minha lutadora!

Com o tempo percebi que não era só naquele dia que tinha de ter coragem. Eu tinha de tê-la para também ter esperança de que tudo não passava de um susto. E nós, como a tua família, tínhamos de ter a certeza de que te dávamos essa esperança para que continuasses a olhar para o mundo com esses olhos bonitos, que só tu tens.

Que sejas sempre corajosa como sempre foste para superar esta doença horrível. E que a coragem seja só mais um símbolo da pessoa que és: uma força da natureza.

Obrigada por me ensinares a sê-lo mais e mais em cada dia que passa e por me fazeres ver os dias como uma dádiva que devemos aproveitar em cada segundo.

A tua neta favorita,

Fabiana

  

Fabiana Sargaço
 

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