Mas que grande 31!
Levei as mãos à
cabeça, pensando comigo: “- Estou feito ao bife! Como sairei eu desta alhada?”
Esperei que os meus colegas terminassem as suas leituras e dei então a mão à
palmatória. Tive sorte de não ter dado para o torto e tive direito a uma nova
oportunidade com o mote “Mas que grande 31!”. E que grande foi o do qual me
safei!
Grande 31? Mas porque
é que aquele tinha sido maior que outros 31? Não seriam todos do mesmo tamanho,
valendo o mesmo? A língua portuguesa é uma língua riquíssima em casos destes. O
vocabulário de um cidadão português comum é esplêndido, pelo facto de que, de
acordo com o contexto, as palavras poderem exprimir algo muito diferente do seu
vulgar significado. Nem damos conta da quantidade de expressões que no dia a
dia ouvimos e usamos que não podem ser traduzidas. Só têm sentido no português,
em Portugal, e muitas vezes numa região. Nem imagino como seria para um
estrangeiro que na sua terra estude o português, a decorar “eu sou, tu és, ele
é...” e da primeira vez que ouve um português a falar perguntam-lhe se é
“camone”, ou “bife”, dependendo da zona.
Ouve-se tanto das
“manias portuguesas” de complicar, ou de achar que o estrangeiro é melhor ou de
inventar quando não há necessidade. Expressões idiomáticas e provérbios
portugueses contradizem a ideia de essas serem manias más. Dão singularidade à
nossa língua, sendo muitas importadas como “gatos pingados” ou “não ter papas
na língua”, respetivamente de origem japonesa e castelhana. O inventar, fazer
jogos de palavras faz parte da boa maneira portuguesa.
Estas expressões não deixam de engrandecer o nosso vocabulário, ainda que não tenham real necessidade de existir, já que por outras palavras poderíamos exprimir-nos de um modo mais corrente. Mas não o fazemos, pois somos portugueses que dão valor ao que é português e uma expressão idiomática é do mais português que há. Português não acostumado a ouvi-las ou que não as entende talvez deva rever a sua cidadania. A complexidade de um idiomatismo português pode até ser um grande 31, mas é um belo de um 31.
Francisco Alves
Comentários
Enviar um comentário