As domadoras dos ventos
As
andorinhas têm um corpo aerodinâmico e as asas são pontiagudas,
perfeitas para as condições mais adversas. Aproveitam os ventos a
seu favor, destemidas, mestres dos céus. Voos rasantes, voos
circulares. Raramente pousam e quando o fazem é nos cabos que estão
no alto dos postes, não no chão. Elas não caminham como os outros
pássaros. Talvez por lhes faltar essa capacidade tenham desenvolvido
a perícia no voo. Aos outros pássaros resta-lhes o abrigo das
árvores e dos arbustos, as fendas nas rochas ou as cavidades nas
paredes.
Recordo
a primeira vez que saí do ninho. Ansiosa, mantive-me na borda a
calcular distâncias, a estudar movimentos. O primeiro voo resultou
de um susto, um empurrão e estava fora do ninho, lançada no vazio.
Não estava preparada. Bem, talvez não seja preciso estar preparada
para começar, talvez não seja necessário ser perfeito. Um empurrão
foi quanto bastou para abrir as asas e pairar. Pousei no primeiro
ramo que avistei. Respirei, ofegante do susto e surpreendida por ter
conseguido chegar até ali. Afinal, o corpo reage ao momento e a
mente comanda os movimentos. Tudo ocorre como deveria, não é
preciso planear ou testar. Convenci-me de que, comigo, levo a
experiência de todos os que me antecederam e, sem mais um
pensamento, lancei-me no espaço. Sou uma com ele e deixo-me levar
pela brisa para longe, cada vez mais longe do ninho. Recordo que o
sol aqueceu o meu corpo e motivou-me a prosseguir.
Envolta
nestas memórias, aguardo que a ventania passe, recolhida na cavidade
de uma rocha granítica, escondida entre musgos e arménias e observo
as únicas aves capazes de a domar… as andorinhas.
Carolina Macedo
Comentários
Enviar um comentário