a ciência também é cultura
nos caminhos da psicologia [psicologia da adolescência]
Ser adolescente é ser feliz e infeliz ao mesmo tempo. É não
ser compreendido e nem sempre compreender. É ser pássaro e não poder voar. É
mais não ser do que ser. É desejar e não poder. É muito difícil. Ser
adolescente é olhar para a vida e pôr-lhe um laço na cabeça.
12º Ano, Turma
A - Escola Secundária Filipa de Vilhena
Monteiro, M., & Santos,
M. R. (s/d). Psicologia (1.º vol.). Porto: Porto Editora, p.248.
A adolescência é uma etapa da vida que se estende da
puberdade à idade adulta, e que é marcada por profundas transformações
fisiológicas, psicológicas, pulsionais, afectivas, intelectuais e sociais
vivenciadas num determinado contexto cultural.
[para ler mais] |
A adolescência é
um espaço/tempo onde os jovens através de momentos de maturação diversificados
fazem um trabalho de reintegração do seu passado e das suas ligações infantis,
numa nova unidade. Esta reelaboração deverá dar capacidades para optar por
valores, fazer a sua orientação sexual, escolher o caminho profissional,
integrar-se socialmente. Este processo de crescimento faz-se também com
retrocessos, este crescer faz-se sozinho, com o melhor amigo, com e contra os
pais, com os outros adolescentes e com os outros adultos.
O professor Daniel
Sampaio, médico psiquiatra, foi um dos introdutores da Terapia Familiar
Sistémica e fundador da Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar. Nos últimos
anos tem prestado particular atenção aos problemas da escola secundária,
participando em numerosos colóquios com alunos, pais e professores, procurando
reflectir sobre as atuais dificuldades do processo educativo.
Daniel Sampaio [saiba mais] |
Na sua obra
Inventem-se Novos Pais o autor afirma que a identidade e a autonomia são as
questões fundamentais da adolescência.
Disponível na BECP |
Segundo o autor, a formação da identidade deve ser
considerada um processo dinâmico, verdadeira interface da dimensão interna e
externa do adolescente.
Adquire-se a
identidade sexual, que se foi estruturando a partir das dúvidas internas e das
constantes interações externas com a família e o grupo de jovens. Consolidam-se
as relações com os outros e dá-se a integração das diversas estruturas da
personalidade, processo que só termina na pós-adolescência. (…) Já Erikson, nos
seus estudos sobre a identidade juvenil, tinha salientado a importância dos
outros na formação da identidade, considerando que esta é uma síntese dinâmica
resultante de um processo de assimilação e rejeição das identificações
sofridas, bem como da interação entre o desenvolvimento pessoal e influências
sociais. (…) Ora uma certa instabilidade emocional que caracteriza a
adolescência leva a uma procura ativa das relações sociais, na busca de
interações estabilizadoras que contribuam para a formação da identidade. Deste
modo, assume grande importância o grupo de jovens, onde confluem diversos
fatores essenciais para a identidade e autonomia adolescentes.
A autonomia é a outra questão central da
adolescência. Pode entender-se como a necessidade do adolescente conquistar o
domínio de si próprio e obter um espaço mental para refletir e para se
relacionar fora da família, o que pressupõe desde logo o abandono de uma
posição de dependência face aos pais que caracteriza a infância. O processo de
autonomia é progressivo, iniciando-se muitas vezes na puberdade e atingindo o
seu pleno na fase final da adolescência, pressupondo algures no seu
desenvolvimento um período de desobediência ou confronto com os pais, mas que
na maioria dos casos é vivido sem problemas graves.
(…) Seja como
for, os jovens crescem muitas vezes num ambiente pseudolibertador, em que são
imediatamente satisfeitos muitos dos seus desejos e onde as diferenças entre as
gerações se esbatem cada vez mais. Os pais vivem na permanente necessidade de “
seduzir” (oferecendo coisas) ou de imitar os filhos, com a ideia de uma
proximidade quotidiana mais agida do que refletida contribuirá para a melhoria
das relações. Puro engano: a inversão da hierarquia familiar ou a igualização
dos pais leva inevitavelmente à confusão e à ausência de modelos organizativos
das relações intrafamiliares. Os pais delegam na escola e nos próprios filhos a
sua missão de educadores, deixando os filhos muitas vezes entregues às tarefas
da adolescência. É como se no diálogo pais-filhos não soubéssemos o lugar de
cada um e o individualismo narcísico ganhasse cada vez mais campo de ação.
Sampaio, D. (1994). Inventem-se Novos Pais (13.ª Ed.). Lisboa: Caminho,
pp.241-246.
Emília Laranjeira
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