Ritmo da alma
Sinto as pernas a tremer, o corpo
a tremer, toda eu a tremer. Espreito através da cortina para a audiência e a
única coisa que o meu corpo me diz para fazer é desmaiar para não ter de
enfrentar tudo aquilo. Sei, porém, por que ali estou. Tenho consciência de que
trabalhei, que dei tudo de mim para merecer estar na maior sala de espetáculos
de Portugal a fazer aquilo de que mais gosto – música.
Neste momento, as luzes
acendem-se e alguém atrás de mim sussurra: “Vai e solta o que vai na alma!” E
eu vou. Caminho em direção à guitarra que me espera como se espera o amor de
uma vida. Sento-me, respiro fundo e os meus dedos afundam-se nas cordas que
percorro. Assim que começo, a minha mente enche-se de memórias. Recordo-me do
início, de como tudo começou. Parece que ainda agora ouço as músicas que também
me ensinaram a ler, a escrever e a cantar; ou aquelas ao som das quais o meu
corpo descansava ao fim de um dia cheio de aventuras; ou até mesmo aquela
melodia que insiste todas as manhãs em me arrancar do meu cantinho.
Para mim, a música é uma forma de
expressar o que me vai na alma. O seu poder arrebatador conquista-me todos os
dias, seja para apelar à concentração nos estudos ou para me vir trazer a paz
de espírito de que necessito. Acredito que todos nós temos aquela música que
nos descreve em determinadas alturas da vida e, ao escutá-la, alguma coisa
dentro de nós se acalma, como se fosse possível que algo imaterial nos
compreendesse.
Quantas declarações de amor já
foram compostas e anunciadas ao mundo através da música? Quantas vidas já se
viveram para dar a conhecer, através da música, aquilo que é, de facto, a vida?
Quantos sorrisos por esse mundo fora foram dados, atirados, sentidos, devido à
música? Quantas paixões?! Quanta alma há nisto tudo! Aqui, sentada, perante
esta plateia, esta é a minha declaração de amor.
Por fim, paro e baixo a cabeça. O
silêncio instala-se nas centenas de metros quadrados da sala, mas, de repente,
as palmas começam a ouvir-se, primeiro tímidas e depois cada vez mais fortes.
Antes de sair, olho uma última
vez para a plateia que ainda aplaude e recordo uma frase que o vocalista da
banda inglesa U2 uma vez disse: “A música pode mudar o mundo porque pode mudar
as pessoas”. E retiro-me, sabendo que estou a fazer a minha parte.
Mariana Camarneiro
Comentários
Enviar um comentário