[homenageando] Rafael Bordalo Pinheiro...
..., nascido a 21 de março de 1846.
Sobre si próprio: "Nunca
cursei academias. Tenho o curso da Rua do Ouvidor...Cinco anos. Canto de
ouvido". O seu olhar crítico e malicioso leva-o à caricatura de uma vasta galeria de figurões políticos e sociais.
A Google presta-lhe homenagem com um doodle que releva a criação que melhor o identifica: o Zé Povinho.
Personagem intemporal, desalinhado em energia, na retórica e na postura,
o Zé Povinho desenha-se no traço grosseiro da robustez que caricatura o
nosso colectivo.
Rindo ou gesticulando em descaramentos, intervém ora
vitimizando-se e submetendo-se, ora como alerta de consciências não
libertas de preconceitos. Entre a boémia e o laicismo, a actualidade de Seu Zé Povinho
não se esgota naquilo que configura a sua personalidade popular; pelo
contrário, transborda da tipificação para a excelência do pretexto que
aponta ao comentário e à crítica. Não poupando nada, nem ninguém, não se
contém em sarcasmos perante os factos políticos sociais e
institucionais.
A sua intervenção opinativa na vida do país revela-se
miticamente como reflexo de desejos, sentimentos e necessidades que se
descobrem pela praxis. Controversa e metafórica, a figura do Zé
Povinho cresce na ambiguidade que se joga entre o cinismo social e a
revolta genuína. Decorre da impotência que se denuncia no manguito e que exorciza com a sabedoria popular o acto de cruzar os braços.
De apelido Povinho, diminutivo de todos nós, Seu Zé nasce com respeito contraditório do que está para além de senhor (Seu) e do que está aquém do diminutivo dobrado (Zé e Povinho).
Rapidamente se torna familiar perdendo o trato deferente e incorporando
o todo das características tipificadoras das gentes portuguesas.
Deformado e deformador impõe-se com o vigor que o eco da popularidade
nacional lhe confere. Com argúcia desvenda a injustiça e o grotesco, mas
é, no entanto, com paciência e submissão que digere o seu próprio
destino.
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