A propósito do dia do sono



A minha cama 



Trata-se de um desabafo; algo íntimo, confesso. Prometam-me que não contam nada, não quero ouvi-la a vangloriar-se durante toda a noite.

A minha cama é de facto extraordinária. A nossa cama foi de facto extraordinária. Sim, eu disse “nossa”. “Nossa”, a cama dos meus pais, que também foi minha durante vários momentos: podia ser aquele pesadelo que me atormentava ou aquela criatura estranha que tende a viver debaixo da cama das crianças. Qualquer pretexto era válido para dormir no aconchego dos meus pais. A cama dos pais tem um pó mágico de amor e ternura que nos atrai e nos envolve tranquilamente, sem espaço para sentimentos maus.

Hoje dou conta que, à medida que cresci, a minha cama tornou-se o meu abrigo mais autêntico. Senti necessidade de criar o meu próprio espaço e autonomia. Coisa própria de adolescente. A minha cama ouve constantemente os meus queixumes e aventuras e as minhas almofadas vão suportando cada lágrima que deito e, por cada lágrima, uma história diferente. E guardam segredo. Como se não bastasse, ainda tentam reconfortar-me: passam a palavra às minhas mantas, pedindo-lhes que me aconcheguem, e murmuram-me ao ouvido que “amanhã será um dia melhor”. Se em pequena chorava alto para que reparassem, agora limito-me a procurar o carinho da minha companheira e choro baixinho para que ninguém note.

Adormeci várias noites no sofá; não me esqueço. Quando o meu pai me levava ao colo para me deitar, ela superava os seus ciúmes e recebia-me com ternura. Desculpa, sabes que és única e que só o teu conforto me serve.

Não fui eu que, simplesmente, comprei a minha cama e a acolhi em minha casa; é ela que me acolhe e que me conquista diariamente.

Diana Fonseca, 10.º CT1

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