"Lionel Asbo" de Martin Amis
A ler...
Durante o expediente matinal na prisão, Lionel Asbo, um
delinquente de médio porte de Diston, recebe a notícia de que ganhou 139
milhões de libras na lotaria.
Último rebento de Grace, cuja prole aos dezanove anos
ascendia a sete, Lionel partilha a casa com o sobrinho órfão adolescente,
Desmond Pepperdine, e com dois pittbull, Joe e Jeff, que alimenta com uma dieta
de tabasco e maus-tratos.
Uma vez posto em liberdade, a fabulosa riqueza catapulta-o
naturalmente para uma vida de excessos e gastos estratosféricos que, em
substância, não difere muito do quotidiano de sarilhos e arruaças da anterior,
só que agora vive nas primeiras páginas dos tabloides. Lionel continua a
preferir pornografia à companhia de uma mulher (pornografia que, com a prisão,
constitui para ele um dos pilares fundamentais da existência); persiste na
educação férrea dos cães (outrora uma importante ferramenta do negócio); e em
não prestar qualquer tipo de auxílio financeiro a nenhum membro da família.
Enquanto Lionel desbarata a fortuna a um débito alucinante,
e espreme todos os proveitos que pensa poder retirar da fama – Des, o sobrinho,
está nos antípodas: é um rapaz inteligente e sensato, que procura no estudo e
no trabalho, e numa relação estável, um sentido para a vida.
Lionel
Asbo é um romance cómico, visceral, hiperbólico – e uma sátira da Inglaterra
dos nossos dias e da obsessão contemporânea pelo dinheiro e pela celebridade.
Para te inteirar, no primeiro capítulo há um diálogo entre o
protagonista (Asbo) e o sobrinho (Des) que, juntamente com os cães Joe e Jeff
vivem no bairro londrino Diston Town. Asbo (cujo nome, adotado por ele, designa
comportamento antissocial), arruaceiro e amigo do alheio, acumula várias penas
de prisão até lhe sair a sorte grande.
A diferença entre duas pessoas, tanto a nível físico como
psicológico tão notória neste livro, é ao mesmo tempo maravilhosa. Des é muito
ponderado e tenta mudar os comportamentos desviantes do tio. É muito “low profile”:
“E no pátio da escola? Julgando pelas aparências, Des era um
dos principais candidatos à perseguição. Raramente fazia gazeta, nunca dormia nas aulas, não assaltava os
professores nem ia injetar-se para os sanitários – e preferia a companhia do sexo
mais gentil (...).”
Des é tão tímido que uma das primeiras namoradas é ninguém
menos que a própria avó Grace, ainda muito “enxuta” na casa dos quarenta.
Inicia-se aqui uma relação incestuosa com a mãe do seu tio facínora que irá
atormentar o pobre Des.
Como vês, esta história tem ingredientes que nos levam para
mundos diferentes onde comportamentos díspares convivem lado a lado.
Não vais querer perder este romance, com toda a certeza.
Boas leituras.
A professora Adélia Maranhão
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