Revisitando tradições e outras 'coisitas'...
... do mês de novembro.
"Se Novembro é considerado o mês dos Santos, não o é menos de S. Martinho.
Além de ser o dia da primeira prova do vinho novo
– “Em dia
de S. Martinho,
vai à
adega e prova o vinho” -,
era também um
dia para fazer os magustos – comunitários, em espaços largos, ou familiares,
à lareira -, assando-se e comendo-se as castanhas, bebendo-se a jeropiga ou o
vinho novo e, no fim, enfarruscando-se uns aos outros
- lume, castanhas e vinho”.
Em algumas localidades do concelho de Cantanhede, a comemoração do S.
Martinho era feita pelos homens e pelas mulheres, em separado, o que sugere a
persistência de ancestrais ritos clânicos.
Assim, no dia 10 – S. Marinho das mulheres -, juntavam-se as
mulheres para o magusto, enquanto no dia 11 – S. Martinho dos homens
– eram os homens que faziam a festa.
O S. Martinho ainda se revela numa outra coisita do povo.
Costuma, nesta altura do ano, vir um solzinho airoso e um tempo
mais ou menos ameno. A estas características atmosféricas costuma chamar-se “Verão
de S. Martinho”. A razão vem expressa na lenda do mesmo santo.
“Um dia, S.
Martinho, que ainda não era santo, mas já fazia coisas muito boas, vinha duma
batalha a cavalo no seu cavalo, onde tinha sido um valente garreador.
O dia
estava muito frio e chovia a cântaros.
A certa
altura, encontrou um pobre todo rotinho, com os trapos todos rotos e cheio de
frio.
Como o
tempo estava assim, S. Martinho rapou da espada e cortou a sua capa em duas e
ofereceu metade ao pobrezinho para ele se agasalhar.
Logo que
isto aconteceu, o dia começou a mudar e apareceu um solzinho muito airoso e um
tempo quente.
Foi assim
que começou o Verão de S. Martinho. [1]”
[1]
Manteve-se o texto como foi recolhido para não adulterar a simplicidade da
linguagem e a beleza das imagens.
in Melo, P.C.(1986). Novembro e outras coisitas do povo
Este ano, não temos "um solzinho airoso" nem "um tempo
mais ou menos ameno" (talvez coisitas da Natureza ou da mão do homem...). Mas o tempo chuvoso e frio convida aos magustos e ao calor do convívio ao redor da lareira. Porque há tradições que podem continuar a ser o que eram...
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