Andar suja?




Quando vejo uma criança suja, posso, imediatamente, deduzir que é uma criança feliz.

Quando era mais nova, ia com a minha avó e o meu primo para a terra dela, a tão conhecida “terra abaixo da ponte”. Esta é uma terra enorme atrás da minha casa onde passa um curso de água, ou melhor, uma vala, que foi uma excelente piscina onde não só nadávamos nós, como também nadavam os peixes de que eu tinha tanto medo. Íamos para lá duas vezes por semana e era diversão garantida. 

À segunda e à quinta-feira lá íamos nós regar aquela imensidão de alfaces e tomates e outras hortícolas, de que nunca consegui saber o nome. Lembro-me tão bem de quando ela ligava o motor e começava a água a chegar ao pé de mim vinda de todos os lados… De repente, parecia que estava numa festa de verão onde os convidados eram terra e água. Tanta terra e tanta água no meu cabelo e na minha roupa!...

Chegava a casa e quando a minha mãe me via, apetecia-lhe colocar-me toda na máquina de lavar. Mas quando chegava ela dizia-me sempre: 
- Ó Mariana, que trabalho é esse?!
E eu com uma doce face respondia-lhe de imediato:
- Mas, mãe, sou tão feliz assim!

E é verdade: era a pessoa mais feliz do mundo.

Estar sujo não significa que sejamos pobres ou que não nos preocupemos com a nossa saúde (imagino que todos aqueles grãos de terra tenham algum impacto na minha saúde). Significa, sim, no meu ponto de vista, ser puro e ser feliz. Estar sujo (do modo que referi) é sinónimo de liberdade: sentia-me tão livre a correr terra acima, terra abaixo com o meu primo; sentia-me feliz porque, se ganhasse essas corridas, não poria a mesa para o jantar. E eu ganhava quase sempre!...

Sentir-me assim é tão bom que se torna um sentimento inexplicável.
Mariana Moreira
(12.º CT1)

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