Sujar para alegrar
No mundo de hoje encontramos pessoas de todas as
idades: velhos a passear no parque, cheios de vida e mesmo assim tão sós;
adolescentes focados na vida escolar, sem se aperceberem da efemeridade do
tempo e da importância do que se segue; e adultos em rotinas e trabalhos que
odeiam por não terem sido muito bons a ser adolescentes. Temos momentos de
infelicidade, de tédio, de compromissos inegáveis condicionados por uma
realidade inevitável.
Mas ser criança é diferente. Há uma liberdade
inédita e uma felicidade intrínseca incompreendidas por todos os que lá
passaram e aprenderam nada. Não importa se não estamos num local a horas, não
importa se somos ou não cordiais para o Senhor
Doutor, não importa se sujamos as nossas roupas a brincar com flores no
jardim. Não importa.
E é por isso mesmo que sujar é (tão) crucial. Em
mais nenhuma idade é socialmente aceitável, sejamos francos. Sujar permite que
tenhamos a consciência do quão livres na realidade somos. Não podemos sujar-nos
na igreja ou quando vamos ao médico, mas podemos quando brincamos e imaginamos
um novo mundo no espaço de meia dúzia de metros quadrados. Quando as nossas
mães nos diziam que podíamos engelhar a roupa e o nosso sorriso abria, era como
se tivesse sido acionado por uma alavanca para deixar entrar um maior fluxo de
criatividade e energia.
Mas até cientificamente sujar foi comprovado ser
útil. Quando uma criança pode comer com as mãos e sujar as mangas e o peito da
camisa, ela ganha maior apetite pela comida e mais gosto em saboreá-la. Não há
a interferência dos talheres com o paladar e o uso exclusivo das mãos vai
estimular o estômago, bem como tornar a experiência mais pessoal. Isto acontece
em países orientais, do norte de África ou até no sofá lá de casa, quando nos
deliciamos com pipocas ou batatas fritas a ver um bom filme.
Portanto, na minha opinião, qualquer criança deve
sujar-se, para que possa conhecer naquele momento tudo o que é de facto ser
criança. Assim, ficar-lhe-ão gravados na forma de memórias todos os bons
momentos de alegria e gosto que teve a sorte de viver.
Diana André
(12.º CT1)
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