Carta para ti, Covid-19

Querido Covid-19 ou Coronavírus (não sei bem como preferes que te chame).

Por mais que tente, continuo sem entender o porquê da tua repentina chegada e entendo ainda menos o porquê de ainda não teres desaparecido.

Não estás satisfeito com o que nos tiraste, é isso? Não te divertiste o suficiente nestes oito meses? Não chegaram os milhares de vidas a que puseste fim? Não chegou impedires o convívio com quem amamos e a única forma de os vermos ser através de um ecrã? Gostaste de nos ter impedido de sair de casa? De nos impedires de dar abraços? De nos impedires de dar beijos?

Beijos… Duvido que saibas o que realmente significam, uma vez que és completamente insensível. Tiraste milhares de vidas em poucos meses; invadiste o corpo de velhos, adultos e crianças… Mas tu não queres saber, não é verdade? O que fizeste e continuas a fazer é brutalmente cruel e imperdoável, mas vou explicar-te, vou explicar-te o significado que um simples beijo pode ter, na esperança de perceberes uma pequeníssima parte daquilo por que nos estás a fazer passar.

Segundo o dicionário, beijo é “a aposição dos lábios sobre alguém ou alguma coisa”. Esta definição não está totalmente errada, mas é demasiado vaga, demasiado simples e fria para aquilo que realmente é um beijo. Um beijo é muito mais que um simples toque; é muito mais que um gesto de cumprimento; é muito mais que um mero ato social. Um beijo pode significar algo tão agradável como um “dorme bem”, “eu estou aqui para te proteger”, “eu perdoo-te” ou “eu amo-te”.

Adoro dar e receber beijos, adoro a proximidade que nos dão; adoro sentir-me reconfortada e reconfortar apenas com um beijo; adoro as borboletas na barriga, o palpitar do coração, os arrepios que provocam; adoro o amor e carinho que transmitem; adoro aqueles segundos em que parece que tudo à minha volta abranda e o foco é simplesmente aquele gesto de ternura.

Sinto falta disso, sabes? De chegar ao pé dos meus avós, dos meus tios, dos meus primos, dos meus amigos e de enchê-los de beijos, só porque sim, só para demonstrar que os amo.

Não fazias ideia de que um pequeno gesto podia significar tanto, pois não? Até dos beijos babados dos meus tios-avós tenho saudades!

Agora que tens uma ínfima noção daquilo por que estamos a passar, podes ir embora, por favor, para eu poder voltar a encher de beijos tudo e todos? Suplico-te.

Espero não precisar de voltar a escrever-te.

Carolina Reis, 11.º CT3

Texto produzido na disciplina de Português, sob a orientação do professor Paulo Melo. 

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