Clepsidra

 Um retrato de Londres, com o seu glamour melancólico, pintado pelo próprio tempo, reflete a monarquia passada e presente. Mas a melancolia que a tinta reflete deve-se à que vem dos meus olhos, não, à do tempo nublado, constante.

As minhas ações, pintadas com as lágrimas do tempo, vêm de um amarelo alegre para um azul penoso, que se prende à tela sem hesitação. Mas talvez a pena que provém da alegria do momento seja a minha própria reflexão e não o objetivo do pintor. O tempo também pinta as folhas das árvores num alaranjado do outono, mas não pretende demonstrar a melancolia da mudança, mas a mudança em si, pronta a ser interpretada por qualquer um de nós. Talvez o tempo que não passa não seja uma punição, mas sim um desafio à nossa paciência, que há de vir. Que será necessária para o tempo que vem, para o tempo que será pintado por ele próprio, deixado à nossa interpretação.

O tempo que se liberta, para que eu possa escrever este texto, foi já pincelado pelas minhas próprias lágrimas, enquanto refletia neste tema. Enquanto via um casamento a ser desmoronado por um pilar infiel, já rachado. Enquanto via um discurso de despedida, paralelo a um retrato a ser queimado, porque o modelo não gostou da consequência do tempo. Um retrato agora considerado uma obra-prima perdida.

Prefiro que o tempo que há de vir seja pintado com o carinho de um beijo. Espero fausto e prosperidade no meu futuro! Mas quem sou eu para esperar algo de um ser tão poderoso e afável? Para que o futuro seja pintado por um beijo, tenho de ser eu a beijar o tempo, para que ele possa refletir-se em mim, para que eu possa refletir-me em mim mesmo.

Tempo queira que esta insegurança e ingratidão, que esta desorientação e incerteza seja uma fase, como todos parecem afirmar.

Diogo Carriço, 11.º LH2

Texto produzido na disciplina de Português, sob a orientação do professor Paulo Melo.  

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