A ler... José Saramago
... a propósito de O ano da morte de Ricardo Reis
Escrevo este mês sobre uma obra do nosso Nobel da
Literatura: O Ano da Morte de Ricardo
Reis, de José Saramago, livro disponível na Biblioteca Escolar Clara Póvoa.
Fig.1 – Fotografia de José Saramago |
José Saramago nasceu na Golegã, Azinhaga, em novembro de
1922. Escritor, argumentista, jornalista, dramaturgo, romancista e poeta,
Saramago distinguiu-se excecionalmente no campo da Literatura. Em 1995 ganhou o
Prémio Camões, o mais importante prémio literário português e, em 1998, foi
galardoado com o Nobel da Literatura, feito único nesta área, na História Portuguesa.
Acabou por falecer em junho de 2010, em Lanzarote, vítima de leucemia crónica.
Dentro da sua vasta coleção literária, é de destacar as seguintes obras: Memorial do Convento, O Ano da Morte de Ricardo Reis, Cadernos de Lanzarote, Ensaio sobre a Cegueira, Ensaio sobre a Lucidez e A Viagem do Elefante.
Fig.2 – Capa do livro [Edição do Público] |
O Ano da Morte de
Ricardo Reis é um romance protagonizado, tal como o próprio título indica,
por Ricardo Reis, célebre heterónimo de Fernando Pessoa. Este retorna a
Portugal em 1936, após a morte de Fernando Pessoa e depois de dezasseis anos expatriado
voluntariamente no Brasil, testemunhando em primeira pessoa o clima negro da
decadência e opressão que se vivia em Portugal, tal como da evolução do
fascismo na Europa. Inicialmente, Ricardo Reis instala-se no Hotel Bragança,
acabando por fazer amizade com várias personagens e chegando a ter relações
amorosas com uma empregada do hotel – Lídia, e com uma rapariga de saúde débil
- Marcenda. (É de destacar que Saramago não escolhe estes nomes em vão – Lídia
e Marcenda são nomes clássicos da poesia de Reis).
Depois de visitar o seu túmulo, Reis vai recebendo, no seu
quarto, a visita do espírito de Pessoa que, entre muitos dos diálogos próprios
de Pessoa, afirma que teve pena de não dedicar um único verso a Camões, talvez
por inveja.
Fig.3 – Caricatura de Ricardo Reis |
Depois de uma longa estadia no Hotel Bragança, Reis encontra
uma casa e abre um consultório médico, preenchendo a vaga de outro médico que
está de baixa. Continuando a manter relações amorosas com Lídia e Marcenda,
Reis chega a ser interrogado pela PIDE, que questiona, de forma sombria e
misteriosa, as razões do seu regresso a Portugal.
Ricardo Reis sente-se estranho em relação a si e
principalmente à vida. Todo o contexto histórico e geográfico insere-o num
“labirinto de decisões”, tentando encontrar o caminho certo para os seus
impasses. Sente-se, pois, um estrangeiro após dezasseis anos fora de Portugal.
Este livro mostra-nos a unicidade e genialidade da
literatura de Saramago. Abre-nos horizontes e esclarece-nos sobre o contexto
social da época da ditadura na Europa: o medo, a opressão, a decadência, a
perseguição, a ingénua felicidade das pessoas, mas também nos confronta com uma
plausível teoria sobre Ricardo Reis. Caso este fosse uma pessoa real, como
teria reagido à morte de Fernando Pessoa? Quais as razões do seu retorno a
Portugal, depois de ser ter ausentado para o Brasil devido à queda da
Monarquia?
Fica para análise dos leitores o seguinte excerto da obra:
“Todos nós sofremos duma doença, uma doença básica, digamos assim, esta que é
inseparável do que somos e que, duma certa maneira, faz aquilo que somos, se
não seria mais exacto dizer que cada um de nós é a sua doença, por causa dela
somos tão pouco, também por causa dela conseguimos ser tanto.”
Fazendo minhas as palavras de Marisa Torres da Silva, “[O
Ano da Morte de Ricardo Reis é] um romance que se transcende a si próprio,
posicionando-o numa tradição literária simultaneamente clássica e moderna,
portuguesa e internacional.”
Convido-vos a lerem ou a relerem, caso já o tenham feito,
este livro.
Vale a pena!
Afonso Marques, 12º CT3
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