Jim Crace
A ler…
Jim Crace nasceu em 1946 no Reino
Unido e é unanimemente considerado como uma das vozes mais originais do seu
país. Estudou Literatura Inglesa e publicou o seu primeiro trabalho literário
em 1974. Nos 10 anos seguintes, escreveu vários contos e peças radiofónicas.
Entre 1976 e 1986 trabalhou como jornalista freelancer
e, a partir de então, passou a dedicar-se exclusivamente à ficção. É o autor
multipremiado de vários romances, incluindo Continent, galardoado com
o Whitbread First Novel Award de 1986 e o Guardian Fiction Prize; e Being
Dead, o romance que foi distinguido com o National Book Critics Circle
Award em 2001. O romance Colheita (Harvest) colocou-o
como um dos favoritos e finalista do Book Prize de 2013.
Na biblioteca da Escola Secundária,
poderás encontrar as seguintes obras do autor:
Encontramo-nos em Inglaterra,
numa aldeia tranquila onde ainda se vive ao ritmo das estações e dos trabalhos
agrícolas sazonais. Num final de verão, no entanto, o novo senhor das terras
e os seus homens chegam e confiscam os terrenos comunitários para iniciar
a criação de ovelhas e a produção de lã. A desconfiança, o medo, a
revolta e a violência instalam-se e, em apenas sete dias, assistimos à
dissolução de uma ordem social quase paradisíaca face ao nascimento da era
industrial. Mas qualquer coisa ainda mais inquietante se insinua no coração
desta história narrada pelo único homem que fica para a contar... Walter
Thirks. A prosa encantatória e poética de Jim Crace serve esta belíssima
narrativa na perfeição.
Baritone Bay, a meio da tarde. Um homem e uma mulher,
nus, casados há quase trinta anos, jazem assassinados nas dunas. Os corpos
tinham expirado, mas qualquer pessoa diria - só de os olhar - que Joseph e
Celine ainda se amavam. Pois enquanto a mão dele a tocava, encurvada sobre a
perna dela, o casal parecia ter alcançado esse estado de paz que o mundo
geralmente nega, um momento de graça que desafiava até o crime que os vitimara.
Qualquer pessoa que os encontrasse ali, tão perversamente desfigurados, seria não
obstante forçada a admitir que algo do amor de Joseph e Celine tinha
sobrevivido à morte das células. Os cadáveres tinham sido entregues ao tempo e
à terra, mas ali estavam ainda um homem e a sua mulher, repousando serenamente,
carne contra carne, mortos, mas ainda presentes.
Entrevista a Jim Crace (excerto)
A entrevista já acabou, quando
Jim Crace diz abruptamente: "Eu carrego uma culpa". Fica em silêncio
do outro lado da linha, mas já é demasiado tarde, não pode voltar atrás. O
dique rebenta, as palavras precipitam-se: "Carrego uma culpa, percebe? A
minha mãe e eu não aguentávamos mais. O meu pai já estava doente há tanto
tempo, nós tínhamos de fazer tudo, até levá-lo à casa de banho. Estávamos tão
fracos e cansados que acabámos por mete-lo no hospital. E nesse mesmo dia ele
morreu, no hospital, sozinho."
Foi em 1979, décadas antes
de publicar o seu sexto romance, A
Morte nas Dunas. "E apesar de logicamente saber que não o matámos –
prossegue Jim –, uma parte de mim continua a pensar que o abandonámos.
Estávamos cansados, no fim da linha, mas arrependo-me tanto de não termos
aguentado mais 24 horas – para que que ele pudesse morrer connosco, na nossa
casa. E eu nunca, mas nunca, perderei esse sentimento de culpa. Irá comigo até
ao meu leito de morte, por mais que o racionalize, por muito que saiba que é
idiota estar a punir-me."
Ainda viu o pai, cinco
segundos, talvez nem isso. O tempo de uma despedida infame, apressada, antes do
cadáver ser reduzido a cinzas. "Ele teve um funeral ateu, o que foi
terrível. Não havia ninguém presente, nem canções, nem discursos, música ou
flores. Ele tinha-nos dito: depois de ser cremado quero que deitem as cinzas
fora. E porque nós gostávamos muito dele, fizemos o que nos tinha pedido. Foi
um erro imperdoável."
Para saberes mais sobre este autor e a
sua obra, existe muita informação em linha que podes consultar. Eis alguns exemplos: Goodreads, The Guardian, The Paris Review, The Independent, BookBrowse e London Review of Books, entre outros.
Adélia Maranhão