A grandeza maternal




Revisitação da quadra popular “Com três letrinhas apenas/

Se escreve a palavra mãe;/ É das palavras pequenas/ A maior que o mundo tem”
 


De repente, dá-se uma espécie de mini Big Bang e já está. Está feito! Depois, cresce, cresce, cresce e cresce. Passado então algum tempo, as coisas agitam-se, temos o estrogénio, a progesterona, a oxitocina e mais umas quantas hormonas a percorrer o corpo, trazendo com elas alterações bastante intimidantes. No final, ouve-se um choro e pronto, está cá fora. 


Realmente, esta pode ser a descrição, um tanto ou quanto científica e muito, muito breve, mas uma descrição de duas pessoas que adquirem novas posições. Temos a mulher que passa a ser, também, mãe e temos a criança que passa a ser, também, filho. E parir não é tudo, é verdade, não é isso que forma totalmente uma mãe. Por isso, assumimos que o conceito de mãe se possa estender, também, a todos aqueles que cuidam e criam. Deixamos já aqui esclarecida esta questão. 


Peguemos, então, na palavra mãe e, automaticamente, lembramo-nos de características, comportamentos, ideias que ligamos e relacionamos diretamente com a mãe: a comida caseira que liberta um perfume bastante atrativo e que é capaz de alimentar a vizinhança toda e arredores; o beijinho que cura tudo, desde o mais singelo dói-dói a uma cabeça rachada, e a dor passa como que por magia; o orgulho que extravasa quando o seu pequeno atinge um objetivo. Dá-nos os conselhos todos e mais alguns e, mesmo assim, lá vamos nós com a mania de que sabemos tudo e de que não precisamos de quaisquer conselhos. Algo corre mal e lá voltamos a chorar baba e ranho, a pensar que a nossa mãezinha tinha toda a razão, apesar de o nosso bastante desenvolvido orgulho raramente nos deixar admiti-lo perante ela. É claro que isto se trata de uma pequena parte desta bastante complexa relação mãe e filho. Mas quero agora debruçar-me sobre a mãe e só a mãe.


Mãe. Com isto tudo, ainda vamos descobrir que mãe é uma espécie de acrónimo ultrassecreto, nele contendo as características mais estanhas e que misturadas são um caso sério, uma palavra que, com três letrinhas apenas, representa o que de maior o mundo tem. Por exemplo, M de mulher, A de amiga, E de esposa e o til, que serve como um íman que junta todos os elementos. Ou então M de médica, A de amante e E de educadora. E podíamos estar aqui bastante tempo a fazer os vários tipos de ligações existentes. Mas o que quero explicar é a complexidade de se ser mãe. “Mãe” não significa ser-se só mãe, estão-lhe inerentes outras características e posições com as quais tem de lidar diariamente e - como é esperado - lidar de uma forma excelente. Se por qualquer razão algo falha, a coisa fica complicada, quer em termos de pressão e repressão social, quer em termos de pressão e repressão familiar e (mais complicado ainda) pressão e repressão pessoal. É verdade: quaisquer que sejam as posições de uma mulher, de uma mulher mãe é esperado que as cumpra todas… e bem! 


Mas como já era de esperar, isto também é só uma parte de como se escreve a pequena palavra mãe. Afinal, as birras que atura e que, por qualquer razão, têm uma forte tendência a acontecer em público e a envergonhar a progenitora; as noites muito mal dormidas; o medo constante de que algo de mal possa acontecer; a também muito persistente luta interior que teima em incomodar as mães deste mundo; a dúvida que surge sempre numa mãe nos momentos de decisão; o pensamento que teima em realçar o medo de não se estar a fazer o melhor; o perdão sempre presente; as lágrimas também… Mas é mãe e estará sempre para o que der e vier nem que isso signifique ainda mais sacrifício, mais esforço, mais noites mal dormidas. 


E como é que eu sei? Afinal, não sou mãe. A resposta é simples: tenho uma.



Maria João Santos, 12.º LH2

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