A insustentável leveza dos ideais
desobediência civil [a propósito do dia internacional da resistência não violenta]
O Dia Internacional da Resistência Não Violenta celebra-se a
20 de fevereiro. Esta celebração vem relembrar aos homens que é possível lutar
por convicções sem recorrer à violência.
Através de protestos simbólicos, do recurso à desobediência
civil, pode-se exercer uma força que permita alcançar reformas capazes de
assegurar a construção de uma sociedade mais justa. Esta luta, feita através do
diálogo e da recusa em utilizar a violência, foi preconizada por três grandes
homens da história recente da humanidade: Mahatma Gandhi, Nelson Mandela e Martin
Luther King Jr.
Mahatma Gandhi |
Veja aqui filme |
Mahatma Gandhi (1869-1948), advogado, político e líder
espiritual indiano, lutou pela independência da Índia recorrendo à
desobediência civil. Foi defensor de formas de protesto não violentas e
fundador do moderno Estado indiano.
Nelson Mandela (1918-2013), advogado, líder rebelde e
presidente da África do Sul, Prémio Nobel da Paz em 1993. Dedicou a sua vida à
defesa dos Direitos Humanos. Foi o responsável pelo fim do Apartheid.
Veja aqui um discurso de Nelson Mandela. |
Martin Luther King Jr.(1929-1968), pastor protestante e
ativista político norte-americano, Prémio Nobel da Paz em 1964 pelo combate à
desigualdade racial através da não violência. Autor da frase “ I have a dream…”
perdeu a vida lutando pela defesa de uma coexistência racial harmoniosa.
O discurso "I have a dream" é um dos mais poderosos de sempre |
Jonh Rawls (1921-2002), filósofo norte- americano, é autor de
uma teoria da justiça onde defende a noção de justiça como equidade.
John Rawls |
Nesta
teoria, Rawls defende uma conceção de sociedade justa, com base num conjunto de
princípios de justiça que pessoas livres e racionais aceitariam numa posição de
igualdade. O seu ideal de justiça assenta em três princípios fundamentais:
princípio de liberdade igual para todos; princípio da igualdade de
oportunidades e princípio de diferença, que admite as desigualdades se estas
forem utilizadas em benefício dos desfavorecidos (dar mais a quem menos tem).
Com estes princípios Rawls acreditava ser possível diminuir as desigualdades
entre ricos e pobres.
Obra disponível na BECP |
Compete ao Estado assegurar o bem-estar dos cidadãos e uma
distribuição justa dos direitos e benefícios sociais. Quando há por parte do
Estado abuso de poder, no entender de Rawls, este perde a sua legitimidade e os
cidadãos deixam de estar obrigados a obedecer, podendo recorrer à desobediência
civil como forma de impedir a violação sistemática dos princípios de justiça.
Segundo Rawls a desobediência civil é:
“um ato público, não violento
decidido em consciência mas de natureza
política, contrário à lei e usualmente praticado com o objetivo de provocar uma
mudança nas leis ou na política seguida pelo governo. Ao agir desta forma
apelamos ao sentido de justiça da maioria da comunidade e declaramos que na
nossa opinião ponderada, os princípios da cooperação social entre Homens livres
e iguais não estão a ser respeitados. (…). A desobediência civil não é
violenta. Tenta evitar o uso da violência, em especial contra as pessoas (…).
Ela expressa a desobediência à lei dentro dos limites da fidelidade ao direito
(…) expressa pela natureza pública e não violenta do ato, pela vontade de
aceitar as consequências jurídicas da nossa conduta. (…) A desobediência civil
foi definida (…) de forma a estar compreendida entre, por um lado, o protesto
nos quadros da lei (…) e, por outro, a objeção de consciência e as várias
formas de resistência. (…)."
Rawls,
J. (1993). Uma teoria da justiça.
Lisboa: Presença, pp.273-286.
Emília Laranjeira
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