Porque a ciência também é cultura
Nos caminhos da Psicologia [Psicologia do Envelhecimento]
Nas sociedades industrializadas, a velhice corresponde a uma
baixa de estatuto. Os velhos, afastados do processo produtivo, são
marginalizados pelo sistema social. A psicossocióloga e gerontóloga
Maximilienne Levet (1995), fundadora da universidade da terceira idade em
Paris, refere que “a sociedade contemporânea vê a pessoa idosa, unicamente
através da lupa económica do sistema de produção.
A experiência acumulada nem sempre é valorizada |
Os valores de reflexão, de
meditação, de sabedoria, e as potencialidades que se vão forjando com o avanço
da idade, não são tomadas em consideração.” (p. 25)
Para o biólogo, o envelhecimento
é um fenómeno natural, universal e necessário, e o homem envelhece do mesmo modo que o animal. Mas
será que o homem, neste ponto, não difere verdadeiramente dos outros animais?
Ao invés das outras espécies, o
ser humano tem uma história com instituições, modos de organização que variam
segundo o tempo e o espaço. É claro que é um animal, mas é um animal político.
Por outro lado fabrica instrumentos, cuida dos seus netos e mesmo dos seus
avós, conta histórias graças à sua linguagem muito elaborada; inventou a medida
do tempo, e sabe que vai morrer; é para ele próprio um problema; pergunta-se
de onde vem, para onde vai, e porque vive.
(…) Não podemos assim limitarmo-nos aos
aspetos fisiológicos para estudar o envelhecimento humano. É preciso integrar
nele todas as alterações que não são de origem biológica e que surgem ao longo
do tempo.
O envelhecimento não é hoje apenas uma questão fisiológica |
(…) o envelhecimento é diferencial. O que
significa isto? Simplesmente que cada um de nós envelhece de um modo
particular, diferente do modo dos outros.
As diferenças aparecem segundo a
geografia: não se envelhece da mesma maneira nos pólos e no equador, à
beira-mar e na montanha; segundo o nível económico do país: não há nada em
comum entre envelhecer num país pobre e um país rico, um país industrializado e
um país agrícola; segundo a cultura: o estatuto, dito de outro modo o lugar e o
papel reconhecidos à pessoa de idade diferem notavelmente de uma sociedade para
outra; segundo o sexo e a classe social à qual se pertence, etc.
Jovem-idoso é um conceito que nos permite encarar o envelhecimento de forma diferente |
Quaisquer que sejam os países, o
século e a cultura às quais nos refiramos, a velhice é um mundo em si, com os
seus valores, as suas alegrias e os seus sofrimentos.
A ler. Disponível na BECP |
(…) A sociologia americana
introduziu o conceito de “ jovem-idoso” que começa a ser adotado em França,
enquanto a expressão “ terceira idade” foi rejeitada. Lamentamos este facto,
porque do ponto de vista sociológico designa a paragem normal da vida
profissional, ou seja, uma paragem que não é devida nem a razões de saúde nem
ao desemprego. Esta expressão tinha a vantagem aos olhos dos gerontólogos, de
não fixar a idade; enquanto uma pessoa trabalhar não pertence à terceira idade,
mesmo se tiver 90 anos, porque a reforma constitui um modo de relacionamento
especial com o dinheiro, com os que lhe estão próximos, com a sociedade. É
verdadeiramente uma terceira idade da vida.
Maximilienne Levet (1995). Viver Depois Dos 60 Anos. Lisboa: Instituto
Piaget, pp. 23-25 e 27.
Seleção e apresentação de Emília Laranjeira
Comentários
Enviar um comentário