aprendendo de poetas...


... sobre Abril e as promessas


                                                                "A poesia tem de voltar a subverter a linguagem do cifrão que afunilou as nossas vidas"

Manuel Alegre


Manuel Alegre é um português-poeta que acompanhou / acompanha, interveio / intervém na vida política e social portuguesa. 
Habitualmente, não sou uma pessoa atenta aos acontecimentos políticos do país, mas, ao ler alguns poemas de Manuel Alegre, dei por mim a pensar sobre o que se passou antes do 25 de Abril, de 1974, e o que se passa atualmente.
Ao ler os poemas que abordam a época da ditadura e a revolução de Abril, concluo que o seu envolvimento tão profundo na vida política do país, que chegou a mudar o rumo da sua própria vida, obrigando-o a abandonar Portugal, deu força e esperança a outros que não se podiam manifestar contra o regime. E, mesmo à distância, ele não deixou de se preocupar com o país e com quem nele habitava.
Depois da Revolução de Abril, ele não ficou parado a ver os acontecimentos passarem e, atualmente, continua a mostrar-se preocupado com o rumo do país.
Muitos dos seus poemas são o espelho daquilo que muitos portugueses sentem e vivem.

Resgate

Há qualquer coisa aqui de que não gostam
da terra das pessoas ou talvez
deles próprios
cortam isto e aquilo e sobretudo
cortam em nós
culpados sem sabermos de quê
transformados em números estatísticas
défices de vida e de sonho
dívida pública dívida
de alma
há qualquer coisa em nós de que não gostam
talvez o riso esse
desperdício.
Trazem palavras de outra língua
e quando falam a boca não tem lábios
trazem sermões e regras e dias sem futuro
nós pecadores do Sul nos confessamos
amamos a terra o vinho o sol o mar
amamos o amor e não pedimos desculpa.
Por isso podem cortar
punir
tirar a música às vogais
recrutar quem vos sirva
não podem cortar o verão
nem o azul que mora
aqui
não podem cortar quem somos.

Águeda 23/12/2012 
Manuel Alegre


Ao realizar o trabalho sobre a poesia de Manuel Alegre, fui despertando para algumas situações que me passavam despercebidas, foi como se as suas palavras me acordassem para a realidade que passou, e que eu não vivi, e para a que está acontecer atualmente. 

Bárbara Costa 10.º CSE

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