aprendendo de poetas...
... sobre Abril e as promessas
Alexandre
O´Neill foi um poeta contemporâneo, com algumas marcas de surrealismo na sua
poesia, de cariz urbano e que versava sobre a cidade, a sociedade, o regime
salazarista…
O’Neill
usa uma linguagem familiar e popular, recorrendo muito à ironia e ao humor
negro.
Como
poeta que viveu e sentiu o antes e o depois do 25 de Abril, os seus poemas revelam
essas vivências: “Adeus Português”, “O poema pouco original do medo”,
“Perfilados de medo”…
E o que
revela sobre o que se vivia antes da Revolução? Um clima de perseguição, onde
não havia liberdade para exprimir a opinião, onde, de um texto de 3000 caracteres,
apenas 150 eram aprovados pela PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado)
e, muitas vezes, acrescentavam 50 de mentira e pura manipulação. Um clima de
perseguição, em que tínhamos de fugir do nosso próprio berço, porque não havia
aconchego, porque não havia segurança.
Depois,
com a Revolução, muita coisa mudou: os exilados voltaram a Portugal, os presos
políticos foram libertados, apareceram os partidos políticos, as eleições
tornaram-se livres, a escolaridade passou a ser obrigatória até ao 9.º ano e o
trabalho infantil proibido e a censura acabou por desaparecer.
A 1 de Maio de 1974 já se comemorava a conquista da Liberdade prometida. Mas como tem
sido o cumprimento dessa promessa? Segundo este poema de O´Neill, intitulado de
“Traição”, parece não ter sido.
Quando do cavalo de tróia saiu outro
cavalo de tróia e deste um outro
e destoutro um quarto cavalinho de
tróia tu pensaste que da barriguinha
do último já nada podia sair
e que tudo aquilo era como uma parábola
que algum brejeiro estivesse a contar-te
pois foi quando pegaste nessa espécie
de gato de tróia que do cavalo maior
saiu armada até aos dentes de formidável amor
a guerreira a que já trazia dentro em si
os quatro cavalões do vosso apocalipse
cavalo de tróia e deste um outro
e destoutro um quarto cavalinho de
tróia tu pensaste que da barriguinha
do último já nada podia sair
e que tudo aquilo era como uma parábola
que algum brejeiro estivesse a contar-te
pois foi quando pegaste nessa espécie
de gato de tróia que do cavalo maior
saiu armada até aos dentes de formidável amor
a guerreira a que já trazia dentro em si
os quatro cavalões do vosso apocalipse
1981
O´Neill
viveu e morreu, deixou poesia. Mas será o que escreveu apenas versos? Não! É
vida! É um retrato, uma bela pintura, porque a vida é a pintura mais bela que
existe. É o quadro mais sagrado.
Descobri
que a poesia de O´Neill é simplesmente VIDA, é um mar e uma praia, versos que
se transformam em harmonia, sem deixar de denunciar, de criticar, de condenar…
Beatriz Catarino 10.º AV
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