Dia Internacional da Liberdade de Imprensa
A
insustentável leveza dos ideais
Desde o ano de 1993
que, a 3 de maio, é comemorado o Dia Internacional da Liberdade de Imprensa. Extremamente
próximo do conceito de Liberdade de Expressão, este valor não deve ser
esquecido, pois tem encerrado em si um papel preponderante na sociedade.
Afinal, é pela imprensa que nos chegam informações sobre casos insólitos, que
nos fazem repensar e problematizar diversas situações que merecem a nossa
atenção.
Talvez este 3 de maio
seja o mais significativo das últimas décadas. Penso hipoteticamente na atenção
que os mass media darão a esta data e
não posso deixar de prever referências ao massacre ocorrido em Paris, na sede
do jornal satírico Charlie Hebdo, a 7 de janeiro deste mesmo ano. Este ataque
deixou a Europa e o Mundo, simbolicamente, a erguer canetas nas mãos e a
proferir solidariamente a frase ''Je suis Charlie''. Volvido mais de um mês, em
Copenhaga (aparentemente uma das cidades mais seguras e felizes do
mundo), um violento e semelhante acontecimento voltou a ocorrer, interrompendo
um debate acerca de "Arte, blasfémia e
liberdade de expressão".
Urgem as questões: será
a liberdade de imprensa um valor democraticamente garantido na nossa Europa?
Terá a liberdade de imprensa limites éticos? Como proteger a imprensa nos
países em conflito? Para quando uma Liberdade de Imprensa que se diga mundial?
Se, no mundo ocidental,
parecíamos ter alcançado um estádio positivo de liberdades cujos alicerces
estão agora a ser postos em causa, em países de matrizes culturais bastante
distintas, a liberdade de imprensa é um valor que continua a ser defendido
apenas por uma elite de progressistas, um tabu na sociedade. É grave
reconhecermos estes factos. Dizem alguns que tivemos a sorte de ''nascer do
lado certo do mundo'', mas mesmo aqui não podemos estar seguros de que o que as
últimas gerações alcançado de bom (refiro-me à Revolução de 25 de abril de 1974
que acabou, entre outras medidas tomadas, com a censura e o famoso ''lápis
azul'') estará sempre garantido no futuro. Escreveu, afinal, Vasco Graça Moura
que ''nas democracias, o exercício da cidadania
implica a permanente contribuição de cada um na construção da liberdade, mesmo
quando, aparentemente, ela não esteja em causa ou não seja dela que se trata
(Moura, 2012).” Não esqueçamos que os maiores ditadores da História da Humanidade
foram simples humanos que, inteligentemente cegaram as massas, garantiram o seu
apoio fervoroso e preferiram o valor da segurança (em tempos de instabilidade
económica e social) ao da liberdade. Não nos podemos, de facto, iludir perante
a conjuntura atual; há que defender esta conquista e problematizá-la
seriamente.
Deste lado do mundo, o
dia 3 de maio poderá servir quer para comemorar as liberdades alcançadas por
via da democracia, quer para incentivar a reflexão sobre esta problemática a
nível internacional, quer para evocar os tantos jornalistas que foram
perseguidos e, em casos extremos mas não raros, mortos na vã tentativa de
reportar ao exterior graves conflitos que se faziam sentir algures, como
vítimas da sua própria liberdade. Noutros lugares, este será mais um dia de
guerra, violência e opressão, em que, nos dicionários daqueles humanos, as
palavras ''liberdade'', ''imprensa'' ou ''expressão'' não viram riscadas a
azul, mas sim com manchas encarnadas de sangue ou com as lágrimas de quem não
se conforma com a dura realidade.
Ana Margarida Simões, 12ºLH
Referências
bibliográficas
Moura, V. G. (2012). A
identidade cultural europeia. Lisboa: FFMS.
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