Canções no vento que passa
Há sempre
alguém que semeia
Canções no vento que passa
Manuel Alegre
Nada
somos senão vento. Com mais forma, traços definidos e cores, mas tão
inconstantes e passageiros quanto o vento.
Mudamos
de rumo, ficamos mais fortes, enfraquecemos, mudamos de direção. Somos ruidosos
e espalhamos tudo à nossa volta. Passamos em silêncio e somos quase
impercetíveis. Somos tão inconstantes quanto o vento, mas, principalmente,
somos tão indefinidos quanto o vento.
Talvez
a característica mais interessante de observar seja a forma como o vento reage
aos obstáculos que encontra no seu percurso, a forma como se molda e como adapta
a sua passagem a cada objeto, seja uma parede, uma árvore ou um tapa-vento
estrategicamente colocado no areal.
Nós
não somos diferentes, apenas reagimos, não a objetos mas a pessoas; e, no meio
de tantos encontros, esbarramos com algumas que nos fazem dançar ao som de uma
música diferente, pessoas que nos apresentam novos ritmos, que nos fazem mudar a
letra da canção, que nos levam a passar de grave a agudo, a deixar de soprar ao
som do jazz para o substituir pelo rock, passando pelo rap e pelo hip hop. É
esse o motivo das nossas mudanças de direção e de intensidade: a mudança da
música que ditava o ritmo até àquele momento, até irmos ao/ de encontro a
alguém com capacidade para reescrever a pauta.
E
até mesmo quando estamos em perfeita sintonia e a orquestra parece estar
perfeitamente afinada, aparece sempre alguém
que semeia novas canções no vento que
passa.
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