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... velas no bolo de aniversário de José Saramago, hoje, dia 16 de novembro de 2013.


     E o melhor presente que lhe poderemos oferecer é, sem dúvida, usar as suas palavras para aprender dele e com ele. «Vivo desassossegado, escrevo para desassossegar» foi o que norteou toda a sua obra, desassossego gradual e conscientemente adquirido, desde que começou essa viagem que não acaba nunca - a Vida - sobretudo quando de homens como Saramago se trata. 
     «A pergunta “quem és tu?” ou “quem sou eu?” tem uma resposta muito fácil: cada um conta a sua vida. A pergunta que não tem resposta é outra: “que sou eu?”. Não “quem” mas sim “quê”. Aquele que se faça essa pergunta irá enfrentar-se com uma página em branco, e não será capaz de escrever uma única palavra.» [1] Quem foi Saramago? Um Ser dotado de uma aguda sensibilidade,
Imagem: Sara Walton,
Gustavo Paiva e David Mósca (2010]
que lhe causa o tal desassossego do espírito, e cuja aprendizagem tão bem descreve no discurso proferido na Academia Sueca, aquando da receção do Prémio Nobel. E é neste discurso que se refere, a dada altura, a duas personagens que protagonizam uma das mais belas histórias de amor da literatura universal: «Aproximam-se agora um homem que deixou a mão esquerda na guerra e uma mulher que veio ao mundo com o misterioso poder de ver o que há por trás da pele das pessoas. Ele chama-se Baltasar Mateus e tem a alcunha de Sete-Sóis, a ela conhecem-na pelo nome de Blimunda, e também pelo apodo de Sete-Luas que lhe foi acrescentado depois, porque está escrito que onde haja um sol terá de haver uma lua, e que só a presença conjunta e harmoniosa de um e do outro tornará habitável, pelo amor, a terra.»
     

     A sensibilidade de Saramago revela-se, ainda, no hino constante com que exalta a Mulher, em muitas das suas obras, e cujo motivo ele tão bem explica: «Dizem que as minhas melhores personagens são mulheres e creio que têm razão. Às vezes penso que as mulheres que descrevi são propostas que eu mesmo quereria seguir. Talvez sejam só exemplos, talvez não existam, mas de uma coisa estou seguro: com elas o caos não se teria instalado neste mundo porque sempre conheceram a dimensão do humano».[2] Talvez porque «Além da conversa das mulheres, são os sonhos que seguram o mundo na sua órbita. Mas são também os sonhos que lhe fazem uma coroa de luas, por isso o céu é o resplendor que há dentro da cabeça dos homens, se não é a cabeça dos homens o próprio e único céu».[3]
     Celebrar Saramago é importante. Ler a sua obra também, uma vez que escreve para desassossegar e a sua escrita revela a consciência profunda de que «Os homens sempre valem o mesmo, tudo e coisa nenhuma» [4]

PARABÉNS, José Saramago!
LCM

[4] Saramago, J. (1982). Memorial do convento. Lisboa: Caminho, 24.ª ed, p. 111
     

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