do jogo de espelhos...


... ou como os outros nos veem.

É sempre interessante, ou, no mínimo, curioso, espreitar os reflexos que deixamos nos outros, as imagens que de nós eles colhem e como nos interpretam.


«Dizem os chineses que há três espelhos que refletem a nossa personalidade: o primeiro reflete como os outros nos veem; o segundo como nós próprios nos vemos e o terceiro como na verdade somos.»

Ruth, I. História incompleta, In Jornal de Letras, Artes e Ideias, n.º 997, 17 de Dezembro de 2008

Quando o jogo dos espelhos envolve escritores que falam de si ou interpretam reflexos que de outros colhem, a leitura torna-se deveras apetecível, sobretudo quando de gigantes se trata.

      Era um homem que sabia idiomas e fazia versos. Ganhou o pão e o vinho pondo palavras no lugar de palavras, fez versos como os versos se fazem, isto é, arrumando palavras de uma certa maneira. Começou por se chamar Fernando, pessoa como toda a gente. Um dia lembrou-se de anunciar o aparecimento iminente de um super-Camões, um Camões muito maior do que o antigo, mas, sendo uma criatura conhecidamente discreta, que soía andar pelos Douradores de gabardina clara, gravata de lacinho e chapéu sem plumas, não disse que o super-Camões era ele próprio. Ainda bem. Afinal, um super-Camões não vai além de ser um Camões maior, e ele estava de reserva para ser Fernando Pessoas, fenómeno nunca antes visto em Portugal. 

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