a insustentável leveza dos ideais


[a propósito do dia internacional da pessoa com deficiência]


A 3 de dezembro, assinala-se o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, data promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), com a finalidade de sublinhar a necessidade de uma maior atenção, por parte da sociedade civil e do poder político, para os assuntos relacionados com a deficiência.

Da fragilidade incontornável da deficiência provém uma força que não podemos desmerecer

A deficiência é, por natureza, uma condição de vida que permanece, mesmo com medidas de reabilitação e de tratamentos. É algo com que a própria pessoa precisa de aprender a viver, assim como aqueles que com ela convivem. E, se a família tem um papel insubstituível no acolhimento e acompanhamento da pessoa com deficiência, a sociedade em geral tem uma responsabilidade que não pode ser ignorada. As famílias que têm a seu cargo pessoas com deficiência deverão ser amparadas por um efetivo cumprimento de medidas legislativas que procurem criar condições de inclusão e participação na vida da comunidade por parte destes cidadãos especiais e diferentes. Sabemos que legislar sobre tal matéria de nada servirá se não houver um acolhimento de coração daquelas leis. A sociedade tem o dever de atender às limitações daquelas pessoas e construir um mundo onde se sintam acolhidas, valorizadas e nunca rejeitadas. Só quando se conseguir encarar a pessoa com deficiência como qualquer outra pessoa, dotada de iguais dignidade e direitos, é que teremos criado as condições para ver que esta é uma questão humana fundamental, devendo a capacidade que uma sociedade tem de integrar e valorizar os cidadãos com deficiência ser um fator importante para avaliar o seu nível de desenvolvimento.

É com nostalgia que recordo alguns alunos, portadores de deficiência, que a vida de professora me foi colocando na sala de aula e na vida. Não posso nunca esquecer o Rui Pedro que, com as suas graves limitações locomotoras, dizia desassombradamente, a quem tinha pruridos e não sabia lidar com naturalidade com aquelas suas limitações: “Hei! Eu não sou nenhum coitadinho”. Esta auto-afirmação causava admiração e desconcertava quem com ele convivia. Tenho também presente a Marta que, na sua cadeira de rodas, com o esqueleto deformado e inúmeras complicações de saúde, escancara sempre a alma num sorriso, não se atrevendo ninguém a manter um ar sisudo e maldisposto quando ela está por perto… Ambos precisam da solicitude de quem deles cuida, porque as suas fragilidades assim o impõem, mas tanto um como outro têm o poder de despertar algo de bom naqueles com quem convivem. E é esta presença no mundo de pessoas diferentes e especiais que me leva a descobrir a verdade contida nas palavras de Jean Vanier:

“As pessoas frágeis e vulneráveis podem atrair o que há de mais belo e luminoso nas pessoas mais fortes; chamam-nas a abrir o seu coração e a sua inteligência à compaixão, a amar com inteligência e não só sentimentalmente”(2009).

Reconheço que a pessoa com deficiência suscita nos outros uma atitude de desvelo que é um valor acrescentado na sua humanidade e, paradoxalmente, a vulnerabilidade daqueles que precisam dos cuidados de alguém é muitas vezes acompanhada de uma força interior que os conduz a vitórias inimagináveis nos seus combates existenciais! E, então, interrogamo-nos: afinal, quem é que é forte e quem é que é fraco?!

Maria Manuela Miranda


Lista de referências bibliográficas:
Vanier, J. (1999). Acueillir notre Humanité. S/l: Presses de la Renaissance.

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