a ler…
Milan Kundera e a sua obra literária
Quando me propus a escrever sobre o autor Milan Kundera, fi-lo pela
grande admiração que tenho pelo seu trabalho. A folha branca ia sendo
preenchida com dados objetivos que a História não poderá mudar - Kundera nasceu
em Brno (atual República Checa) no ano de 1929 - porém, a certa altura, o texto
que tinha escrito não passava de uma mera síntese informativa sobre a biografia
e a obra literária deste Homem. Oh, mas Kundera é muito mais que um cidadão
outrora checo que conseguiu em 1981 a nacionalidade francesa e que o filho de
um musicólogo, pelo que a Música esteve sempre muito presente na vida do
escritor. Kundera é o meu autor favorito, pelo que reformulei o meu texto de
forma a não esconder no meio da mera informação a valorização que atribuo às
suas criações literárias.
Sendo que o autor viveu num período conturbado da História da Checoslováquia
(com a invasão da Rússia, em 1968), o cenário político-social é uma constante
nas suas obras, chegando os seus livros a serem banidos das livrarias do país.
A perspetiva do autor acerca desse período é revelada de forma crítica,
reflexiva e, por vezes, com um refinado sentido de humor.
Fig. 1 - Fotografia do escritor Milan Kundera |
Nos últimos tempos, o nome de Kundera voltou a soar no meio literário.
Recentemente, o autor foi nomeado para o Nobel da Literatura de 2014, e viu
publicada mais uma obra de ficção - ''A festa da insignificância''.
Apesar de não ter (ainda) conseguido o reconhecido Nobel, que acabou
por ser atribuído a Patrick Modiano, Kundera não tem motivos para ''festejar a insignificância'',
pois conta já com uma lista significativa de outros prémios literários.
Fig. 2- Edição Portuguesa de ''A festa da insignificância'' |
Embora tenha já publicado obras poéticas, ensaios e peças teatrais, o
autor é, sobretudo, reconhecido pelos seus romances, onde posso destacar a sua
mais famosa obra ''A insustentável leveza do ser''. Esta, data de 1982 e conta
também com uma adaptação cinematográfica, a qual, curiosamente, foi muito
criticada pelo autor, que desde então não permite a adaptação ao cinema dos
seus livros. Este livro consegue representar ''magistralmente a ligação
existente entre a aventura individual e coletiva'' [i],
já que, apesar de se focar nas vidas das personagens Tomas, Tereza, Sabina e
Franz, a ação vai acompanhando a conjuntura política da Checoslováquia durante
a era comunista.
Fig. 3 - Capa da obra ''A insustentável leveza do ser'' |
Mas o fascínio da escrita de Kundera não termina aqui. No livro ''A
Ignorância'', o autor reflete acerca do conceito de nostalgia, por exemplo, e,
com ''A valsa do adeus'', permite-nos entrar nas peripécias duma estância
termal checa - os críticos afirmam ser esta a obra mais cómica do autor. Já em
''A vida não é aqui'', o autor consegue o retrato brilhante da vida de um jovem
artista, cujo crescimento acompanhamos ao longo do livro.Todas as palavras que pudesse escrever não permitiriam
compreender eficazmente o universo literário de Kundera. Este ''checoslovaco-depois-francês''
é o exemplo de um autor que consegue criar a obra de arte plena, já que não se
limita a contar uma história romântica que apela à lágrima fácil, mas
proporciona, através de personagens magnificamente imaginadas, a reflexão sobre
as temáticas que sustentam a existência humana.
Ana Margarida Simões, 12ºLH