um conto por dia...
... nem sabe o bem que lhe fazia!
O conto é uma narrativa de curta dimensão, cuja ação nos prende pela precipitação rápida para o final, normalmente inesperado. E, por ser conciso, facilmente nos envolve na trama em que enreda as personagens, sem grandes dispersões de espaço ou tempo e centrando-se na mensagem que nos quer transmitir.
«Perdeu a noção do
tempo gasto a erguer o muro, mas não seria improvável que tivesse passado todo
o Verão no jardim a assentar tijolos, porque os dias murcharam – e não podia ser um
efeito iatroquímico, criado pela fadiga em conjunção com os raios do Sol em relação à
altura do muro, porque este era mais comprido que elevado. Subiu pela última vez à sala do
andar superior e observou o muro desse nobre – e vazio – ponto de vista. A
verdadeira biblioteca estava em baixo, no jardim, dentro do muro: palavras envoltas pelo barro.
No fundo, não era
isso um homem?
Palavra enroupada
pelo barro, feito, temporariamente, carne?
Esta retornaria ao
pó após a morte, mas e a palavra? A palavra não retornaria a parte alguma, pois de nenhuma parte viera: ia. Ia e reverberava pelo cosmos – se não infinitamente,
quase. E o bom de ser-se quase infinito é que, desse modo, é-se eterno.»
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